domingo, 7 de abril de 2013
Sobrevivendo até a morte
Aquela noite, descobriu o poder curador de um longo banho quente, aparentemente mais eficaz que um bom porre e mais ágil que intermináveis sessões de análise. Era como se, abraçado pela água, pudesse lavar toda a dor que pesava em seus ombros. O líquido corria generoso por seu corpo, oferecendo um calor que a humanidade – no momento reduzida a um único alguém – havia negado com tanta veemência. Assim, o roteiro de longa-metragem daria lugar a cenas curtas que, embora com tintas mais carregadas, decretariam fade out de vez. Ajoelhou-se diante do azulejo azul-céu-clarinho e, por instantes, deixou que sua matéria escorresse ralo abaixo. A água ajudava a desescrever as tatuagens que haviam lhe sujado. Eram cicatrizes. Iriam desaparecer. Uma hora ou outra. Talvez em dois dias. Talvez no século XXX. Ao menos teria uma história, pensou, para contar quando tentasse escrever seus personagens. Faria um esforço para continuar seguindo na vida, nem que isso lhe custasse a própria vida.
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