sábado, 3 de dezembro de 2011

Ninho

Afaste-se. Pelo menos, um pouco. Esse é o chão onde eu me deito, onde eu piso e me gasto. Uma terra que é minha por direito, como meu corpo me é de usucapião. Onde eu roço com enxadas, a ponta dos dedos e a maçã do rosto. Meus são esses caminhos, com atalhos secretos que levam a recantos escuros. Não adentre. Não cruze a linha, nem ouse invadir os pés das árvores sob as quais me refugio. Mas, se ainda assim decidir fazê-lo, tire os sapatos, sem fazer barulho, nem se deixe denunciar pelo cheiro de rompantes de vida. Sem interromper meu sonho, repouse ao lado e observe enquanto respiro, lento e vasto. Vá com cautela, mas vá. Não exijo canções-de-ninar ou torso macio. Apenas adormeça, com seus pulmões pequenos e frágeis. Em instantes, nasce desse esconderijo o universo silencioso e indivisível onde reina minha luminosa paz.

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