segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Absurdo


Fatalmente, santifico-me. As mãos, que servem ao trabalho e à luta, transfiguram-se em digitais e palmas sutis que carimbam o corpo de outrem com leveza. Os pés recebem o dom do aconchego, encontrando semelhantes por entre o cobertor. A natureza de minhas extremidades é o outro, a quem procuro tatear como um descobridor, sem a ânsia de encontrar tesouros perdidos, mas com a missão de mapear centímetro por centímetro os desígnios da pele. Pois se há braços, que abracem. E se há no corpo casa para o acalento, então que se envolva devagar, repousando a cabeça do outro ante o próprio ombro, cujos músculos se estendem e dilatam para acolher. Em nome de Deus, evoluí para o amor. Por Darwin, encarei o absurdo da vida nascendo do pó e ao pó voltando.

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