Enquanto me metia a escrever canções, você se articulava em longas prosas. Um escolhia clássicos da literatura para torturar a já pouca esperança no mundo, outro devorava três best sellers por semana e acreditava nas oportunidades da sociedade democrática. Escrevíamos beijos demorados e mandávamos pelos ares, confundindo o tato, paladar e visão, porque tudo nos aflorava o prazer. Até cedermos um ao outro, éramos o vermelho e o negro puros, dois olhares singelos e desumanos. Às vezes, trovejávamos ou molhávamos a terra devagar, mas sempre fluidos como água do céu.
De braços abertos para a vida aos 16, um aprendia a entender e respeitar a língua estrangeiro e o carisma abobalhado do outro, que se esforçava a entender a sutileza dos carinhos - com aura falsa de desinteresse - daquele um. Não era banal, era bom. Éramos a pretensão da felicidade, por ousarmos colocar em prática o desafio de viver a dois, olhando mais para o presente do que para o futuro. Eu bem queria estar aí com você, mas me contento em vibrar. Aqui de Marte, espero que tenha uma linda vida ao lado das pessoas que ama, e de mim - porque eu te amo e um mundo inteiro não se dissipa quando acabam as notícias.
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