quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Violência em monocromia

A FITA BRANCA (Haneke, 2009) -
Mais que fruto de uma inspiração diabólica, a brutalidade é gerada, antes de tudo, através da submissão à truculência alheia. É desta visão que Michael Haneke bebe em seu filme Das Weisse Band (A Fita Branca). Dirigido sensivelmente pelo austríaco, o filme retrata as tensas condutas familiares como elemento fundamental para o estabelecimento de opressões maiores - nesse caso, o nazismo e todos os procedimentos decorrentes dele.

A fita branca do título representa, nas palavras do pastor local, uma evocação à pureza. O religioso ata tiras brancas em dois filhos para que, ao ficarem à beira do pecado, lembrem-se dos valores com que severamente os doutrinou. Aos menores desvios (leia-se: andar pelo vilarejo sem autorização, masturbar-se ou fazer algazarra em sala de aula), são castigados. Logo, a fita acaba assumindo um caráter cada vez mais obscuro. A opção pelo preto-e-branco serve, aliás, de metáfora para a contraposição de pesos e medidas, além de dar qualidade poética ao filme.

Edição crua, cenas longas e tensas, ausência de trilha sonora e atuações infantis impressionantes dão textura ao filme, narrado pelo professor do vilarejo. O homem passa longe de ser o protagonista da história, já que vive feliz e ignorante à revelia do que acontece ao redor. A escolha do narrador, porém, permite maior identificação com o espectador, em virtude de sua isenção nos fatos. Como nós, ele tem, a princípio, grande dificuldade em elaborar a sutileza dos ataques que ocorrem pouco a pouco. Vale ver e rever!

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