domingo, 13 de fevereiro de 2011

Certa manhã, Franz Kafka acordou de sonhos intranquilos e decidiu que era hora de limpar as mãos sujas de graxa, sêmen e poesia. Sentiu o peso de cada dedo, buscando a confirmação visual de que precisava. Concluiu que, sim, aquelas eram mãos legitimamente humanas. Ainda buscando evidências de se tratar de algo próximo a um sapiens de fato, levou os recém-descobertos dedos ao rosto. Fechou os olhos e sentiu que estava tudo bem por trás das pálpebras trêmulas.

Certificou-se de ter um esqueleto calcificado, firme e interno. Penteou os cabelos com algum prazer e sentiu o gosto levemente ácido do creme dental. Deu bom-dia aos pais e à irmã, que havia se transformado em uma linda mulher.

Rumo à estação, ao pisar acidentalmente em algo crocante, entendeu que tinha superado o medo de barata.
Mas o amor, esse sim, continuava a lhe dar arrepios.




Thalma de Freitas - Não foi em vão (a capella)

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